Frequentemente, me vejo explorando os sites dos principais festivais internacionais de cinema documental em busca de novas referências ou filmes que estejam em voga, na tentativa de acompanhar as tendências atuais. No entanto, o acesso a esses filmes é praticamente inviável. Em alguns casos, recorro ao contato direto com os diretores para solicitar um link de acesso. Em outros, procuro por uploads no YouTube ou versões disponíveis em torrents.
Neste texto, não me aprofundarei nos catálogos de documentários oferecidos pela maioria dos serviços de streaming, porque na maioria dos casos só encontramos propostas desoladoras para a saúde do cinema documental.
Gostaria de abordar a complexa estrutura de editais, fundos, laboratórios e demais mecanismos de mercado que transformam o gesto documental em algo simultaneamente rígido e intrincado. O que caracteriza esse gênero é a potência do momento, a vitalidade do olhar durante a pesquisa, o ímpeto imediato de empunhar uma câmera e realizar o filme.
Na maioria dos casos, essa espontaneidade torna-se inviável quando buscamos financiamento para viabilizar nossos projetos. O processo de captação de recursos é demorado, exigindo meses ou até anos para assegurar verbas para a pesquisa ou produção do filme. Contudo, o filme nem sempre pode esperar. Na melhor das hipóteses, conseguimos gravar de forma independente, utilizando nossos próprios equipamentos; na pior, o filme se perde. Isso não ocorre porque o cinema documental dependa exclusivamente de estar em sintonia com o aquilo que é do imediato, mas sim porque o que se deseja retratar pode estar desaparecendo—seja uma paisagem, um personagem ou até mesmo uma intenção.
Desistir torna-se a opção mais simples diante da complexidade da máquina burocrática.
O cinema documental precisa buscar outras fórmulas, rompendo com o eixo fundo-festival, para poder alcançar as pessoas de maneira acessível e prática. É necessário reconfigurar a lógica temporal do mercado e permitir que o impulso criativo seja o elemento definidor desse tempo, possibilitando, assim, o desfrute de um cinema mais vivo e pulsante.
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