Já tem alguns anos, o cinema documentário tem sido uma parte importante da compreensão do mundo ao meu redor. No inicio, pensei que este tipo de cinema servia para conhecer o mundo, como se fosse uma janela para poder ver lugares aos quais eu talvez nunca poderia acessar. Conhecer histórias, personagens ou conflitos pareciam cativar a minha curiosidade como um aluno que escuta o professor dentro de uma sala de aula.
Durante 90 minutos, eu absorvia informações, prontas para serem consumidas. Alguns documentários me pareciam excessivamente tediosos e puristas, enquanto outros pareciam propor um jogo cinematográfico um pouco mais interessante, mas no fundo, raramente eram envolventes ou muito criativos.
No início dos anos 2000, surgiu com muita força um filme do qual todos falavam: "Bowling for Columbine", dirigido por Michael Moore.
Quando fui vê-lo no cinema, fiquei impressionado com a habilidade discursiva do diretor. A narrativa do documentário focava em desmascarar o cruel mercado de armas nos Estados Unidos, e fiquei chocado ao ver como o veterano ator Charlton Heston era confrontado diante das câmeras por sua postura favorável às armas, as mesmas que haviam desencadeado o trágico incidente em Columbine.
O filme me atingiu como um raio, agitando minhas aspirações por um mundo mais justo. De repente, percebi o poder do cinema documentário. Ele podia ser intenso, direto, emocionante e também funcionava como uma poderosa arma cultural. Comecei a ver vários filmes com essas narrativas e testemunhei a coragem dos cineastas em desafiar ideias preconcebidas e desmontar estruturas de status quo. Aquilo, aos 20 anos, me inspirava de verdade.
Após um tempo, quando mergulhei mais profundamente na pesquisa deste gênero, me deparei com alguns filmes autorais, entre eles "Anything can happen" de Marcel Lozinski e, naquele momento, uma nova possibilidade se abriu para mim.
Talvez o filme chegou para mim num tempo de mais maturidade e mostrou-me que o cinema documentário poderia ser muito mais do que uma lição de história ou uma declaração política, social ou ambiental.
A película era um convite para mergulhar nas vidas dos personagens de forma íntima e sem preconceitos. Essa experiência me fez perceber que havia diferentes maneiras de ver e abordar o cinema documentário, cada uma com sua própria perspectiva e propósito.
Identifiquei-me com a habilidade do diretor em transportar-me para dentro do filme sem a pressão de levantar bandeiras. Ver uma criança conversando com idosos em um parque na Polônia na década de 1970 me permitiu apreciar um momento de delicadeza e respeito, onde o diretor me convidou a existir dentro de sua narrativa e a sentir-me conectado com os personagens.
Duas maneiras distintas de ver o cinema, duas maneiras de trabalhá-lo, entendê-lo e relacionar-se com ele.
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